Em setembro, 11° Seminário e Curso Internacional debaterá fenômeno que ameaça segurança alimentar no Semiárido

Processo de desertificação atinge 13% do território da Caatinga e alarma produção agrícola na região

Aplicar e promover tecnologias agrícolas de baixa emissão de carbono — a fim de reduzir a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera — são importantes ferramentas para mitigar o fenômeno da desertificação na Caatinga. Pensando nisso, o 11° Seminário e Curso Internacional de Convivência com o Semiárido promoverá discussões a partir do tema ‘Inovação e Boas Práticas Produtivas no Combate à Desertificação’.

O 11° Seminário acontecerá nos dias 18 e 19 de setembro, aberto a todas e todos que se interessarem pelo tema. Dando sequência e para quem quiser se aprofundar no assunto, o Curso Internacional começará dia 20 e vai até 27 de setembro, presencialmente, no Centro Xingó, em Piranhas (AL). 

Será um momento para debater o fenômeno de desertificação — processo que ameaça a segurança alimentar e hídrica no Semiárido — por meio de diferentes óticas, como políticas públicas, tecnologias sociais e inovações sustentáveis para segurança alimentar e hídrica na região. 

 

Desertificação no Semiárido

Como resposta evolutiva de milhares de anos, o Semiárido e a Caatinga são territórios adaptáveis às mudanças climáticas relacionadas à seca, especialmente por apresentarem, naturalmente, chuvas espaçadas ao longo do ano. Para além das características ambientais, essa adaptação dialoga diretamente com a expressiva relação social e cultural das populações que ocupam esses territórios.

Diversos saberes para conviver no Semiárido são desenvolvidos e passados adiante, como tecnologias sociais e outras estratégias para agricultura, criação de animais e uso hídrico. Esses conhecimentos são fundamentais para mitigar e adaptar o Semiárido à desertificação.

A desertificação é um fenômeno de degradação contínua em ecossistemas com terras secas e considerados frágeis por conta da baixa capacidade regenerativa. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), esse processo acontece apenas em regiões de clima semiárido, árido e subúmido seco. Como consequências diretas, impacta diretamente a biodiversidade local e interfere na fertilidade do solo e na sustentabilidade socioeconômica da região. 

Causada por intervenções humanas, a desertificação é influenciada pela superexploração da terra por monoculturas, desmatamento, mineração, sobrepastoreio, intensa extração de madeira, exploração de ecossistemas frágeis, incêndios, irrigação incorreta e uso excessivo de agrotóxicos. Eventos hidrogeológicos, poluição e seca intensa também são fatores agravantes desse processo.

Diminuição de áreas produtivas, redução da disponibilidade hídrica, aumento da poluição, da contaminação da água superficial e subterrânea e de risco de eventos hidrogeológicos — como enchentes, enxurradas e desmoronamentos — são algumas das consequências diretas desse fenômeno.

A preocupação com o impacto social da desertificação é internacional: de acordo com a ONU, algumas das consequências são o crescimento da pobreza e vulnerabilidade social, aumento de doenças ligadas à contaminação de água e possível aumento de refugiados, migrantes climáticos e êxodo rural.  

O cenário pode causar aflição, mas é possível traçar caminhos para construir práticas de adaptação e de fortalecimento da resiliência do Semiárido e da Caatinga. Apesar das pesquisas atuais indicarem o avanço da desertificação na Caatinga, existem alternativas, construídas em diálogo com os saberes regionais e a produção científica, que apontam para estratégias de contenção desse processo.

Assim, podemos proteger e conservar esse bioma tão rico em biodiversidade, com uma terra fértil que sustenta milhares de pessoas e que floresce múltiplas culturas. Ao promover o desenvolvimento sustentável e incentivar as formas inteligentes de conviver com o Semiárido, trazemos mais condições dignas e segurança para a vida das pessoas.

 

Possíveis impactos na segurança alimentar e hídrica

Bioma savânico, a Caatinga é particularmente vulnerável à desertificação. 

Apesar de ser consenso que a desertificação no território avança rapidamente, a dimensão e o impacto seguem sendo pautas de discussão científica. Pelos dados do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), 13% do Semiárido brasileiro é afetado pelo fenômeno.

De acordo com estimativa do MapBiomas Degradação, lançada este ano, a Caatinga pode ter entre 18% e 54% de sua vegetação possivelmente degradada. Isso equivale a 9 milhões e 26,7 milhões de hectares, respectivamente. Alguns dos vetores de degradação no bioma são as mudanças do uso da terra e a condição climática árida e semiárida dos territórios.

Ao analisarmos o desmatamento na Caatinga — fator que acelera a desertificação —, os dados sobre a perda da vegetação nativa no bioma também variam. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, em pesquisa divulgada em 2010, o bioma perdeu, até então, 45% da sua cobertura vegetal. Por outro lado, as informações do MapBiomas — divulgadas em agosto deste ano —, apresentam que a perda da vegetação nativa na Caatinga atingiu 14% ao longo da série histórica (1985-2023), equivalente a 8,6 milhões de hectares.

Esse cenário intensifica o processo de desertificação, afetando a qualidade do solo e a disponibilidade hídrica regional. Por consequência, ativa um alerta para a segurança alimentar. Entretanto, ao considerar esse território diverso é possível encontrar soluções: no Sertão, existem diversas iniciativas e práticas voltadas para manter a produção enquanto a Caatinga se mantém de pé — um exemplo é a apicultura. O incentivo à hortas comunitárias, à agricultura familiar e à práticas agrícolas sustentáveis — como Sistemas Agroflorestais (SAFs) — também compõem esse mosaico de alternativas. 

Existe uma relação direta entre segurança hídrica e presença de vegetação e áreas naturais em um bioma. Até 2020 (contando a  partir de 1985), dados do MapBiomas indicaram que houve redução de 8,27% da água superficial na Caatinga (incluindo águas naturais e reservas de hidrelétricas) e retração de 40% na água natural (considerando apenas corpos d’água que fluem naturalmente, como rios e lagos).

Esse é um desafio para quem vive o dia a dia no bioma, e que precisa de engenhosidade para encontrar alternativas de resiliência hídrica. Por outro lado, existem formas sustentáveis de se adaptar à situação. 

No Centro Xingó, o incentivo à agricultura sustentável e às tecnologias sociais consolida importantes passos para o combate à desertificação e demais processos — causados pela ação humana — que degradam o meio ambiente. Exemplos são as tecnologias voltadas para captação e armazenamento de água, como as cisternas enxurrada e calçadão, que garantem água no período mais seco do ano, são utilizadas para pequenas irrigações e saciam a sede de animais.

 

Caminhos para o futuro

Apesar do cenário alarmante, a transformação é possível.

Integrar os territórios que enfrentam ou estão em risco de desertificação é um passo fundamental para construção e aplicação de estratégias ligadas ao tema. Nesse processo, mobilizar políticas públicas direcionadas às causas e consequências do fenômeno; ampliar acesso a práticas produtivas de baixa emissão de carbono e a tecnologias sustentáveis; e fortalecer a agricultura familiar são possíveis — e complexos e trabalhosos — caminhos para conter o avanço da desertificação, mitigar as causas, adaptar os territórios e até reverter os danos.

Paralelamente, promover espaços de debate, apoiar a produção de conhecimento e as práticas já existentes, considerando os saberes tradicionais, são pilares importantes nessa jornada rumo a um Semiárido mais sustentável e com melhor qualidade de vida. 

 

Venha construir conosco este debate! Se você gostou do conteúdo, talvez se interesse também por:

 

Compartilhar:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Privacy Preference Center